Era domingo à noite. E eu estava com 39 semanas e 5 dias. Naquele dia em
especial, estava extremamente concectada ao bebê e ao que estava por vir. Tinha
passado o dia repousando, lendo, orando, ouvindo e cantando hinos, me sentindo
grata e abençoada.
O kiko tinha
ido com as crianças para a igreja, e eu que estava pesada demais, resolvi ficar
e me concentrar. Afinal o que estava por vir era novo pra mim, sabia que estava
próximo porque meu tampão estava descendo, e nas últimas duas consultas a Dra
tinha estimulado meu colo do útero (um passo antes do descolamento de
membrana).
Como
preparação, fiz sessões de acupuntura, caminhada na quadra enquanto as crianças
andavam de bicicleta, longos banhos relaxantes e ainda massagem da minha doula,
Jessica Quiroga.
Mas contando
muito menos com essa preparação, eu sentia que estava chegando...
Meu estado
de espírito estava mesmo diferente nesse dia... Eu estava conectada.
Depois que
as crianças estavam todas dormindo em paz em suas caminhas prontas para a
semana que começaria, lembro-me bem do último banho antes de ir dormir... De
acariciar a barriga e dizer:"Venha Rafaella, mamãe está pronta pra te
receber, e você também está prontinha! Pode vir sem medo que eu estarei aqui
pra te amparar e te cuidar... Você não é só minha filha, mas é também do Pai
Celestial"
E disse mais
e nessa hora minha voz embargou as lágrimas brotaram dos meus olhos: "Eu
tenho medo, mas tenho coragem e sei que vai dar tudo certo"... E eu SABIA.
“Pedi, e
dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á.
Porque,
aquele que pede, recebe; e, o que busca, encontra; e, ao que bate,
abrir-se-lhe-á”
Eu deitei do
lado do kiko e da Becca que estava na nossa cama naquele dia, e depois de uns
20 minutos dormindo, sinto uma água morninha escorrendo pelas minhas pernas e
encharcando meus lençóis. Eu falo imediatamente: Kiko, minha bolsa estourou!!
Me levanto e vou enxarcando o quarto todo até chegar no banheiro, sento no vaso
e chuáaaaaaaaaaaaaaa. Muito liquido!! Ahhhhhhhhhhhhh que delícia! Estava
acontecendo, minha bolsa tinha estourado! Chamei o kiko para cheirar: Tem
cheiro de água sanitária? Ele disse que não, e eu achei que não tinha cheiro de
nada. Mas não restava dúvida, era minha bolsa e como tinha líquido!
Tomei um
banho rápido de volta, enchi a cama de toalhas (mas devia ter colocado um
plástico também, rs) E fui deitar com uma toalha no meio das pernas que não
durou nada. logo que as toalhas molhavam ficavam frias e aquilo já estava me
dando uma friagem!
Enfim,
ligamos para a médica que nos disse para esperar as contrações se ritmarem,
observar a cor do líquido que descia e os movimentos do bebê. Me lembro de
colocar um paninho branco no meio das pernas para observar a cor no liquido e
se descia mais tampão... ( Ainda faltava a parte final do tampão, aquela que
vem com borrinha de sangue)
Deixamos o
quarto a meia luz e fomos dormir. O kiko disse: Posso dormir mesmo? E eu: Dorme
poque vou precisar de vc bem descansado! E ele apagou!! rs
Eu fiquei
deitadinha, coloquei uma meia para os meus pés ficarem quentinhos (*dica da
medicina chinesa, pés quentinhos harmonizam melhor as energias do nosso
organismo)
40 minutos
se passam e começam a vir as ondas de contração, aquelas sobre as quais eu
tanto li mas nunca tinha sentido antes... Elas estavam vindo e eram bem como
haviam descrito. A intesidade era fraca mas a frequencia estava relativamente
rápida. Ora 6 minutos, ora 4 , ora 5, ora 7 min...
E fiquei
observado os movimentos da bebê... Quase nenhum! Uma mexida em 1 hora... E nas
2 horas próximas nenhum movimento. Então acordo o kiko, ligamos para a
Dra para relatar panorama atual: Contrações bem suportáveis e rápidas, líquido
clarinho, tampão descendo, e movimentos do bebê quase inexistentes... Bandeira
vermelha para esse último sintoma. Dra diz: Venham para o hospital que eu já
estou aqui, faremos uma cardiotocografia. (checagem dos batimentos cardiíacos
do bebê)
Ligo para
meus pais as 4:30 da manhã... Mãaae, minha bolsa estourou!! Peço para virem
para casa ficar com as crianças, tento deixar tudo organizado para eles irem
para escola dali umas 2 horas (eram 4:30h) pegar as malinhas da maternidade,
minha e da Rafaella. (Ainda bem que estava tudo arrumado!) E os documentos para
internação Frio na barriga!!!!!!!!
Pensei em
tirar foto na garagem rumo ao nosso carro, mas não dá, pausa para sentir uma
contração... Marido carrega as malas e andando que nem pata fazendo xixi nas
calças! Mas sigo curtindo o momento! Rafa estava chegando!!
Já no
hospital inicio o cardiotoco e está tudo bem, coraçãzinho batendo
perfeitamente... Ufa!! Sigo em frente com as contrações de intensidade média e
numa frequência curta, a cada 8-7-5 minutos. Isso parece um pouco estranho já
estarem vindo rápidas assim, A Dra chega para me checar. 2 de dilatação e um
colo não muito favorável, ou seja ele esta médio, precisa ficar molinho para
poder dilatar... Vamos em frente, combinamos com a Dra que às 10:00h ela fará
uma nova checagem e enquanto isso eu sigo monitorada pelo cardiotoco.
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No itervalo |
Vou para um
quarto onde posso ter mais liberdade. Sigo esperando as contrações se ritmarem,
entrarem num padrão. Enquanto isso....
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continuo
monitorada aos cuidados da Natalia Rea (enfermeira obstétrica da minha
equipe.
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Marido sempre do meu lado |
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As horas passam, e chegam às 10:00h, Dra me checa, meu colo está um pouco
mais mole... Mas só um pouco... =(
Era bom que estivesse completamente molinho, esse era o esperado e natural
que ocorresse. Fica uma leve preocupação no ar... Mas a Dra me diz: Ele
melhorou, pouco mas melhorou... Vamos continuar monitorando e você me chama
se engrenar, de qualquer modo voltarei as 20:00hs para tomarmos uma decisão
do que faremos caso teu quadro não mude. (ela me deu ainda 6 horas!) Me
lembro de ter pensado: Com certeza, até lá estarei parindo!
Bem, ora de me mexer, aproveitar essas contrações que estão vindo para
estimular o TP (trabalho de parto)
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A Jessica
me ensina a agachar quando sinto as contrações
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caminhando
nos corredores do hospital
E o tempo
passando...
Então a Dra chega as 20:00h como combinado, e na verdade ela já estava
sabendo como eu estava antes de chegar lá. Me checa a dilatação e colo, e
quando me diz que está tudo igual... Eu desabo... Sinto que ela já imaginava
que estava tudo igual... Pelo panorama de como estavam as coisas... Mas ela
não me fala do que estava desconfiada. Ela senta na cama pega na minha mão e
fala: Vamos ter que fazer uma cesárea, tuas contrações estão disfuncionais, e
junto com esse colo desfavorável nos mostra que algo não está bem nessa
engrenagem.
E eu choro... Não pela cesárea, pois eu já tenho 3 cesáreas, sou bem
experiente em cesáreas, mas eu choro tão doído pelo meu corpo não ter
funcionado 100%. Não gosto de colocar nessa perspectiva, mas eu pensava
"Que raios, meu colo não
amolece porquê?" Ainda não tínhamos uma resposta e isso me deixava
ainda mais frustrada. Se ao menos eu soubesse, seria mais fácil aceitar...
*A médica sabia que não era uma questão de tempo. Quero deixar claro que toda
mulher dilata, a não ser que tenha algo interferindo... E na maioria das
vezes, esse não é o caso, é só uma questão de tempo. Muitas mulheres dizem:
Eu não dilatei! Mas ela, ou seu médico esperou dilatar? Na maioria das vezes,
não.
A Dra me diz: Roberta, eu sei que não é seu emocional (porque o emocional
pode interferir sim, e MUITO e fazer um TP parar) Sei que deve ser alguma
coisa que a gente não tem como ter certeza, mas é algo na engrenagem que está
desfuncional. pode ser o teu útero, (ela não cogita rutura, e nem me passa
pela cabeça) e pode ser tantas outras coisas.
Na verdade, foi bem dificil para mim, me concentrar no que ela dizia, porque
eu estava chorando muito.
Em 20 minutos eu estava no Centro Cirúrgico, mas antes de ir pergunto se
posso ir andando, pois não queria ir de cadeiras de rodas. Agora sei que eu
queria me sentir forte... Mas é protocolo do hospital esse deslocamento em
cadeira de rodas, (provavelmente por medida de segurança) e um senhor
simpático de crachá me aguarda para me levar... Então Ok, vamos lá!
Recebo muito carinho de toda equipe, palavras tão boas de se ouvir... Deitada
na maca, já conheço toda a sequência de uma sala de parto-cesárea. Mas em um
determinado momento, não me lembro qual, eu começo a chorar... Não queria
chorar, poxa... Já tinha chorado bastante! E ainda não sabia bem o motivo,
porque já eram tantas coisas, incluindo a grande emoção de finalmente
conhecer minha segunda filha! Comecei a cantar na minha "Deus vos guarde
com o seu poder, esteja sempre ao vosso lado, vos dipense seu cuidado, Deus
vos guarde com o seu poder..." E logo escuto o kiko: Rô, ela é
cabeluda!! E em poucos segundos eu a sinto escorrengando de baixo pra
cima eu recebo minha filhinha nos braços!! Que emoção!!
Saio
dobrando os braços, puxando os fios e sinto aquele corpinho quentinho, com
aquela pele mais pura escorregando e deslizando as perninhas encima de mim.
Essa sensação do calorzinho do corpo dela é algo que não esquecerei... Ela
não chorou, enquanto ouvia minha voz, ficava quietinha e com os olhos bem
abertos. Atenta, como se me ouvisse, e ainda mais, me entendesse. Na verdade
ela estava me sentindo... Sentindo aquela que lhe foi designada para ser sua
mãe nessa terra, e que foi ensinada por sua Mãe Celestial a amar e cuidar de
seus filhinhos. (Essa é minha teoria para nosso amor e instinto materno serem
algo tão divino)
Isso era o
que eu mais desejava e a motivação de toda minha busca...
Como ela estava calma no meu
colo... Deu pra ver a mãozinha dela no meu peito? E a mão com luva da
pediatra com panos quentinhos para dar mais conforto à ela.
"Apenas
sentindo o novo mundo o qual acabara de chegar. Ainda bem que estava com a
mamãe para a amparar..."
Como pode
nascer já sabendo tão bem como mamar? E sugando com força! Como a natureza é
perfeita!
“Mandou-me
à Terra pra nascer, crescer e aprender em família.”
\
Depois que a mamãe liberou rs, vez
do papai curtir a boneca. Afinal, ele tem 50% de participação! rs Olha que
olhos atentos!
Detalhes
no cuidado, ela foi pesada envolta por uma toalha aquecida... sem abrir os
braços chorando, como acontecem na maioria das salas de parto não
humanizadas.
Através do
vidro, conhecendo a família que assim que foi avisada, chegou todos em 15
min no hospital!
A alegria
do papai! (ao fundo, Dra Andrea Campos e Médica aux. Dra Ingrid. A
anestesista, Dra Márcia estava tirando fotos com o celular do kiko)
Dois dias
depois, a Dra Andrea, passa em visita ao meu quarto, e conversa comigo sobre
o que ela viu durante o parto, o motivo provável da disfunção no meu TP. Me
explicou que eu tive uma deiscência uterina... Uma espécie de rotura, mas na deiscencia não são todas as camadas que se rompem, o peritônio estava intacto. Mas essa espécie de rotura já é o suficiente pra fazer as contrações perderem sua força na cicatriz que já existe ali. E sem essa
força o colo não tinha condições de amolecer além do que já tinha amolecido. E claro, sem mencionar o perigo eminente de uma rotura completa. =(
Depois que
ela me contou isso, não derramei mais nenhuma lágrima pelo meu colo que não
abriu. (porque no dia seguinte a cesárea eu chorei sim... Em conversa franca
com a minha mãe. eu chorei por não saber por que minha engrenagem tinha
falhado, porquê??)
Após essas
informações minha visão mudou... Meu corpo não "falhou" ele fez sim
o MELHOR que ele pôde! Mesmo com uma cicatriz que dissipavam as contrações,
ele abriu o que foi possível, minha bolsa estourou e meu útero contraiu-se em
sua estrutura original por horas à fio... A intervenção veio no momento
certo. A experiência da médica para detectar essa disfunção foi essencial e
crucial.
"Mas eis que eu te digo que deves estudá-lo bem em tua mente;
depois me
deves perguntar se está certo e, se estiver certo,
farei
arder dentro de ti o teu peito;
portanto
sentirás que está certo”.
Eu
estudei, ponderei, busquei e depois orei e senti a confirmação clara e mansa
que tudo daria certo. Só não sabia que seria o certo de acordo com os
desígnios do Senhor. Que por sinal, tem CERTO melhor que esse?
Eu fui
muito abençoada e protegida durante todo o momento.
" Conta
as bênçãos, conta quantas são,
Recebidas
da Divina Mão,
Uma a uma,
dize-as de uma vez,
E verás,
surpreso, quanto Deus já fez"
E por fim,
nos meus braços te olho como se dissesse; Bem vinda minha quarta filhinha!
Vou cuidar de você para toda a nossa eternidade... Não será fácil, mas com
esse amor que já sinto por você isso se tornará possível!
"A família
é essencial ao plano do Criador
para o
destino eterno de Seus filhos"
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